quarta-feira, 6 de junho de 2012

Espiritualidade fará parte de histórico médico daqui a alguns anos, afirma especialista

Há algum tempo, hospitais e médicos vêm utilizando a espiritualidade como aliado no processo de cura do paciente. Apesar de ser um assunto polêmico, muitos pesquisadores já apontam um papel positivo da espiritualidade e religiosidade em doenças coronarianas, hipertensão arterial, ansiedade, depressão, função imune e mortalidade em geral.

“De uma maneira geral, as pessoas interpretam todos os acontecimentos de sua vida sob uma visão espiritual e conhecer e respeitar esta interpretação é de grande ajuda para o doente e para o profissional que o assiste”, acredita Islan Nascimento, otorrinolaringologista e presidente da Associação Médico-Espírita da Paraíba.

Segundo ele - que coordenará um encontro sobre o assunto a partir desta quinta-feira (7) - o tema vem ganhando cada vez mais destaque. Para se ter uma ideia, de 1980 a 1982 o tema foi pesquisado e publicado em 101 artigos de revistas indexadas. De 2003 a 2005, foram 1,8 mil. Desde 2000, foram quase três mil artigos. “A medicina é baseada em pesquisas. Há 20 anos, ninguém questionava o paciente sobre seu histórico sexual. O tema era visto como algo particular. Hoje, é procedimento-padrão. Daqui a 20 anos isso acontecerá com a espiritualidade, que vem conquistando espaço nos consultórios e até na vida de artistas", complementa Islan Nascimento.

É o caso, por exemplo, do ator Reynaldo Gianecchini. Na luta contra um câncer linfático, o ator global decidiu aliar o tratamento convencional ao espiritismo, e parece não ter se arrependido. Em várias entrevistas concedidas, Reynaldo Gianecchini afirmou que o procedimento o deu forças para lutar pela cura, com tranquilidade.

E o ator não está sozinho neste pensamento. Segundo a revista Veja, cerca de 80% de pacientes vítimas de câncer no Brasil, recorrem a medicinas alternativas, geralmente ligadas à religiosidade, para complementar o tratamento alopático.

"Os dados são reais, mas só recentemente a medicina passou a reconhecer a existência de tais práticas", afirma Islan Nascimento, antes de concluir: "Existem estudos comprovando que a fé tem efeitos positivos na saúde das pessoas. Esses pacientes se sentem mais otimistas em relação ao sucesso dos tratamentos convencionais e, assim, além de se cuidarem mais, eles colaboram mais com os médicos. O objetivo é sempre usar o melhor da medicina convencional e o melhor da medicina complementar em defesa do doente".

Encontro nesta quinta abordará saúde e espiritualidade

Deixando de ser apenas "teoria" para se tornar realidade, a espiritualidade no processo de cura virou assunto sério nos consultórios e até de encontros científicos. A exemplo do 7º Encontro das Associações Médico-Espírita do Norte e Nordeste (Encontrame), que será realizado em João Pessoa, entre quinta e sábado desta semana, na Federação Espírita da Paraíba, na Torre.

Voltado para médicos, estudantes e profissionais de saúde e aberto ao público em geral, o encontro trará à capital paraibana, a presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil e Internacional, Marlene Nobre. A médica, que trabalhou com o médium Chico Xavier, ministrará a palestra de abertura do evento (Atualidade Científica na obra psicográfica de Chico Xavier), às 20h30.

Durante os dias do evento, especialistas da Paraíba, Pará, Ceará, Alagoas, Pernambuco, Piauí, Minas Gerais e São Paulo abordarão assuntos relativos ao tema central: "Saúde, Ciência e Espiritualidade". Entre eles, aborto do anencéfalo, células-tronco, Experiência de Quase Morte e Transtorno Bipolar.

ATIVIDADES PARALELAS

Paralelamente ao Encontro também serão realizados a 2ª Jornada Médico-Espírita Paraibana e o 1º Encontro Acadêmico em Saúde e Espiritualidade. Na ocasião, alunos universitários poderão apresentar trabalhos científicos sobre o tema. Os melhores trabalhos serão publicados na revista do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

O 7º Encontro das Associações Médico-Espíritas do Norte e Nordeste está sendo promovido pela Associação Médico-Espírita da Paraíba e pela Associação Médico-Espírita de Campina Grande, em parceria com a Unimed JP e com outras instituições do Estado.

Mais informações podem ser obtidas no blog da AME-PB (http://amepb.blogspot.com.br/).

Assessoria

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Paternidade responsável

Clara Lila Gonzales de Araújo
“E havia certo oficial, cujo filho estava enfermo em Cafarnaum. Ele, ao ouvir que Jesus viera da Judeia para a Galileia, foi até ele e rogava-lhe que descesse e curasse seu filho, pois estava prestes a morrer. [...] O oficial diz para ele: Senhor, desce antes que meu filho morra. Jesus lhe diz: Vai, o teu filho vive. O homem acreditou na palavra que Jesus lhe havia dito e partiu. Ele já estava descendo, quando os servos o encontraram, dizendo que o filho dele vive.” (João, 4:46-47 e 49-51.)1
A belíssima passagem da cura do filho de um oficial em Cafarnaum, narrada por João, destaca importante mensagem a ser refletida por nós, não apenas pela capacidade de Jesus em transmitir energias curadoras - efeito de seu extraordinário poder de agir sobre os fluidos apropriados, capazes de sarar, de forma instantânea, dores e males diversos –, mas pela singularidade da situação vivida por aquele pai que foi ao encontro do Mestre, esperançoso de salvar o filho. Apesar de sua situação de militar régio, que o destacava na sociedade judaica daquela época, não teve dúvidas em procurar Jesus para pedir-lhe ajuda.
O ato qualifica-o como pai amoroso e bom, preocupado com a grave situação familiar, e como homem submisso e cheio de fé na missão providencial do Cristo, certificando-se da grandeza do patrimônio divino, ao testemunhar a redenção do seu amado filho, e da magnitude da graça que havia recebido.
Esse episódio evangélico serve-nos como referência para a análise da lamentável situação espiritual de determinados homens, em desacordo com o expressivo preceito cristão, destacado anteriormente, que abandonam suas responsabilidades junto aos filhos gerados, na maioria das vezes negando a paternidade, afastando-se da parceira e provocando, “[...] naturalmente, em numerosas circunstâncias, o colapso das forças mais íntimas naquela que se viu relegada a escárnio ou esquecimento”.2 Espíritos encarnados que falham como pais, fugindo de suas obrigações no círculo doméstico e renunciando ao compromisso de viver ao lado dos filhos, alguns recém-nascidos, do que sobrevêm inúmeras crises futuras para aqueles que se sentem largados e desprezados por seus genitores, qualquer seja o meio social e econômico em que reencarnem.

A decisão de se querer comprovar a progenitura, por meio de exames da Medicina hodierna que contribuem para o reconhecimento biológico de filiação da criança em desamparo, concede ao filho determinadas vantagens pecuniárias ao ser confirmada a sua descendência, no entanto, tais recursos não invalidam a fraqueza, a negligência e a ignorância moral que são tendências perniciosas cultivadas pelo pai em prejuízo do pequenino ente desprezado. Essas providências médicas e jurídicas, entretanto, nem sempre são utilizadas por certas mães que se constrangem, envergonhadas, e preferem se desvincular de qualquer relacionamento com o agressor, tentando, individualmente, refazer a estabilidade de sua vida social e econômica em benefício do rebento a ser amparado. Mesmo considerando que a companheira prejudicada tenha a liberdade de se empenhar na luta em prol do seu reequilíbrio, é necessário que ela faça “revisão criteriosa do próprio comportamento para verificar até que ponto haverá provocado a agressão moral sofrida”,3 ao ter os elos afetivos rompidos de forma traumática.

Esse delicado assunto nem sempre é avaliado com a preocupação de se buscar soluções éticas e morais que contribuam para o equilíbrio espiritual das partes lesadas. A dor sentida pelos seres relegados ao abandono pode se transformar em procedimentos destoantes de uma vida mental e condição emotiva estáveis. Se alguma coisa se modifica na organização afetiva de um ser humano, ela repercute em todo o indivíduo, influenciando na sua capacidade intelectiva, nas suas atitudes e no seu comportamento. Algumas mães se ressentem tanto do abandono do parceiro que se tornam pessoas depressivas, amargas, sem esperanças; tornam-se irritadas, pouco afetivas e retraídas, e sentem-se desamparadas diante das necessidades filiais. Outras mulheres apegam-se em demasia aos filhos, expressando excesso de afeição e sentimento exagerado de conduta maternal. Além daquelas que, magoadas, negligenciam completamente os cuidados a se ter para com a criança! “[...] Apenas o amor que sabiamente se divide, em bênçãos de paz e alegria para com os outros, é capaz de multiplicar a verdadeira felicidade.”4

De que forma esses temas são tratados pelos autores espirituais?
Alertam-nos os Espíritos superiores sobre os cuidados que a mãe e o pai devem ter para com seus filhos:

É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem, e lhes facilitou a tarefa dando àquele uma organização débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões. [...] Se este vier a sucumbir por culpa deles, suportarão os desgostos resultantes dessa queda e partilharão dos sofrimentos do filho na vida futura, por não terem feito o que lhes estava ao alcance para que ele avançasse na estrada do
bem.5


Muitos jovens, infelizmente, sucumbem, considerando os efeitos desastrosos que surgem da negligência dos pais no encaminhamento de suas vidas terrenas, entre eles o uso pernicioso de bebidas alcoólicas e de drogas ilícitas. Preponderâncias nocivas que são causadoras de graves problemas existentes no mundo, aplicáveis a uma parte da juventude atual, que parece priorizar certos defeitos, tais como: um ceticismo amargo e zombeteiro, transformando-os em homens e mulheres egoístas e indiferentes ao sofrimento alheio, em meio a conflitos de interesses pelas causas materiais, que parecem dominar suas expectativas para o futuro. Sobre o problema, Allan Kardec destaca os resultados da falta da boa educação moral, que consiste  para elena “arte de formar os caracteres”, porquanto “a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos”:

[...] Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. [...] Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos.6

Outro gravíssimo problema, entre as várias abordagens que essas questões suscitam, refere-se, especialmente, à irresponsabilidade dos jovens que, desejando viver em desregramento sexual, tornam-se pais imaturos, sem aceitarem a filiação, entregando seus filhos aos avós para que eles os criem e assumam a incumbência de assisti-los em suas necessidades básicas, permitindo-lhes buscar novas e desvairadas experiências juvenis. A mentora Joanna de Ângelis, nobilíssima educadora espiritual, traz à tona essa situação, alertando-nos:

Habitem ou não os avós no mesmo núcleo, a sua deve ser uma conduta afável, sem interferências diretas no comportamento dos educadores. A sua experiência é-lhes válida, no que diz respeito aos seus compromissos em relação aos demais membros do clã, havendo cessado, ao concluir a educação dos filhos e deixando-os agora assumir os próprios deveres.7

Muitas vezes, pelos descomedimentos de mimos concedidos aos netos, os avós respondem “pelas extravagâncias desses órfãos de pais vivos”.8 Os jovens deveriam arcar com as obrigações ao escolherem os seus parceiros, aceitando, por amor, as lutas árduas e difíceis que travarão para a construção de uma vida a dois, tendo como primeiro dever os cuidados a oferecer ao ser em formação e ter o apoio de seus pais, cuja contribuição não deve ultrapassar os limites da sua condição de familiares e amigos, que compreendem a situação com tolerância e carinho.
Enquanto ignorarmos o alcance dos atos que cometemos, sobretudo os prejudiciais às demais pessoas, e suas consequências em nossos destinos, não conquistaremos melhoria espiritual. O problema é acima de tudo moral, e seremos infelizes enquanto praticarmos o mal.
É preciso fazer a parte que nos cabe para a renovação da sociedade! Indicamos, como providência de máxima relevância para este programa regenerador, o aprofundamento de estudos nas instituições espíritas, contribuindo para que os pais possam ampliar os seus conhecimentos sobre assuntos pertinentes à família e à educação num enfoque essencialmente espírita, à luz do Evangelho de Jesus.

Referências:

1DIAS, Haroldo D. (Trad.) O novo testamento. Brasília: Edicei, 2010.
2XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 10, p. 51-52.
3______. ______. p. 53.
4______. ______. Cap. 11, p. 58.
5KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 582.
6______. ______. Comentário de Kardec à q. 685.
7FRANCO, Divaldo P. Constelação familiar. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2008. Cap. 6, p. 50.
8______. ______. p. 51-52.


Publicado originalmente na revista Reformador (Edição - Maio de 2012)