terça-feira, 14 de agosto de 2012

Tríplice aspecto do Espiritismo


Marta Antunes de Moura

Doutrina Espírita: Filosofia, Ciencia e Religião


A Doutrina Espírita é de natureza tríplice, pois abrange princípios filosóficos (é uma “filosofia espiritualista”1), científicos e religiosos ou morais. Daí Allan Kardec afirmar: O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática consiste nas relações que se podem estabelecer entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem de tais relações.2

Tendo como referência essa orientação, o Espírito Emmanuel elucida: Podemos tomar o Espiritismo, simbolizado [...] como um triângulo de forças espirituais. A Ciência e a Filosofia vinculam à Terra essa figura simbólica, porém, a Religião é o ângulo divino que a liga ao céu.” 3 E acrescenta:

No seu aspecto científico e filosófico, a Doutrina será sempre um campo nobre de investigações humanas, como outros movimentos coletivos, de natureza intelectual, que visam ao aperfeiçoamento da Humanidade. No aspecto religioso, todavia, repousa a sua grandeza divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus Cristo, estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso futuro espiritual. 3

 Em linhas gerais, o aspecto filosófico analisa a Criação Divina, explicando porque Deus criou o homem, qual é a sua origem e sua destinação, refletindo sobre as causas da felicidade e infelicidade humanas. O aspecto científico fornece comprovações a respeito da natureza e imortalidade do Espírito; a influência exercida pelos Espíritos e o intercâmbio mediúnico estabelecido entre  encarnados e desencarnados. O aspecto religioso trata das consequências morais do comportamento humano, definido pelo uso do livre arbítrio e governado pela lei de causa e efeito.

A melhoria moral, orientada pelo Espiritismo, fundamenta-se nos preceitos doutrinários do Evangelho de Jesus,  considerado “modelo e guia da Humanidade” 4: “Para o homem, Jesus representa o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais perfeito modelo, e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão de sua  lei [...].”4

Referências

    KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Folha de Rosto.
    ____. O que é o espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Preâmbulo.
    XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Pelo espírito Emmanuel. 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Definição.
    KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010, questão 625.
Extraído do site da Federação Espírita Brasileira

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Como vivem as crianças hoje?

Marta Antunes Moura
Com a ampliação da expectativa de vida para 100 ou mais anos, devido à prevenção de doenças e à melhoria da saúde, é “[...] possível hoje, quando nasce uma criança, fazer uma previsão, para os próximos 30 anos, das doenças genéticas que ela provavelmente vai ter e então entrar com um programa de prevenção e orientação”.1 Quanto ao aspecto psicológico, no contexto da convivência social, o futuro aponta uma preocupante incógnita ao constatar o significativo número de genitores despreparados para o exercício da maternidade e paternidade responsáveis.
O desenvolvimento físico e psíquico da criança não dispensa os necessários cuidados de alimentação e higiene que devem estar associados ao afeto e à atenção, os quais, em princípio, deveriam ser dispensados pelos genitores, ou por um deles, a fim de que se construa um relacionamento harmônico entre pais e filhos. A satisfação genuína das necessidades fisiológicas e afetivas da criança, viabilizada pela maternidade e a paternidade responsáveis, auxilia o Espírito no combate às próprias imperfeições ou más tendências, fornecendo-lhe condições propícias para saber lidar com os desafios existenciais. O lar – ensina Joanna de Ângelis – “[...] não pode ser configurado como a edificação material, capaz de oferecer segurança e paz aos que aí se resguardam. A casa são a argamassa, os tijolos, a cobertura, os alicerces, os móveis, enquanto o lar são a renúncia e a dedicação, o silêncio e o zelo que se permitem àqueles que se vinculam pela eleição afetiva ou através do impositivo consanguíneo, decorrente da união”.2
Os genitores atuais, conscientes ou não do papel que lhes cabe no contexto da organização familiar, são chamados a refletir, mantendo coração e mente abertos, sobre como vivem as nossas crianças hoje. Essa reflexão se dirige apenas aos pais que integram uma família comum, situada na faixa social dos que vivem nos extremos da pobreza e da riqueza, de realidade diversa. Em geral, as crianças situadas entre esses dois níveis sociais “[...] vivem num mundo cujo cotidiano o tempo virou pelo avesso. Tudo acontece muito rapidamente e as informações, as vidas, as relações familiares, os afetos, os encontros sofrem mudanças com muita frequência”,3 afirma o conhecido médico pediatra brasileiro, José Martins Filho. Nesse sentido, causam impacto os resultados de pesquisas sérias, bem orientadas que, entre outros, ressaltam: a) os pais não estão tendo tempo para assumir os filhos, para se dedicarem a eles; b) as crianças passam muito pouco tempo com os pais, são entregues a babás (nem sempre qualificadas) ou vão muito cedo para a escola: “As creches se transformaram na grande saída para a mãe que trabalha. Mas não há um jeito de ficar em casa com a vovó ou com alguém de confiança que lhe possa dar atenção integral, amor, carinho e dedicação?”.4 Indaga também Dr.Martins Filho, que cunhou a expressão “criança terceirizada”, ou seja, aquela entregue a cuidadores, em casa ou nas creches/escolas. Há, porém, o argumento de que é mais importante a qualidade do atendimento do que a quantidade de horas passadas junto à criança. Nada mais justo. Mas há outros pontos a ponderar. 
Claro que a qualidade do relacionamento é muito importante, mas qual o mínimo de tempo considerado ideal? Dez minutos por dia? Três ou quatro beijinhos sôfregos antes de sair correndo ou ao voltar do trabalho e encontrar a criança já na cama, banhada e alimentada? Isso é qualidade? E nos fins de semana? Trazer trabalho para casa e ficar o fim de semana inteiro plugado no computador, resolvendo os problemas da firma e pedindo silêncio, às vezes irritado porque precisa trabalhar? Alguém já fez uma planilha e se deu conta de quanto tempo fica com os filhos por dia, por semana, por mês? Já pensou o que isso vai significar no final de um ano ou de toda a infância? Qual o percentual de presença que você está dando para seus filhos?5
A reflexão proposta por estudiosos, e também no âmbito deste artigo, não é trazer de volta o modelo burguês ou patriarcal da família (pai provedor, mãe cuidadora dos filhos), mas, em fazermos uma análise honesta, sincera, de que não estaríamos caminhando para outro extremo: o do abandono ou da negligência. “Os estudiosos demonstram cada vez mais o que significa a sensação de abandono, desde o bebê, no primeiro ano, que repentinamente se vê sem a mãe por vários dias, até crianças jogadas ao léu, abandonadas nas ruas [...]. Toda criança fica aterrorizada diante da perspectiva de abandono. Para a criança o abandono por parte dos pais é equivalente à morte, pois, além de se sentir abandonada, ela mesma se abandona.”6 A realidade do abandono ou da negligência, declarada ou sutil, não é fictícia, pois que, somando-se às usuais desordens estruturais e sociais (pobreza, violação dos direitos humanos, preconceitos, desigualdade social, acesso a drogas e álcool etc.), podem conduzir a um quadro social aterrador.7
É preciso, então, trabalhar a ideia da maternidade e paternidade conscientes:“Nasce a criança, trazendo consigo o patrimônio moral que lhe marca a individualidade antes do renascimento no plano físico; no entanto, receberá os reflexos dos pais e dos mestres que lhe imprimirão à nova chapa cerebral as imagens que, em muitas ocasiões, lhe influenciarão a existência inteira”.8
Desenvolver o senso de responsabilidade quanto à educação de filhos é tarefa dos pais, biológicos ou adotivos: “[...] os Espíritos devem contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os Espíritos dos pais têm por missão desenvolver os de seus filhos pela educação. Isto constitui para eles uma tarefa: se falharem, serão culpados”.9 Assim, pais responsáveis devem aprender a identificar o que é realmente necessário e supérfluo na vida, considerando se não seria válido, por exemplo, adiar a realização profissional ou a aquisição de bens enquanto os filhos são pequenos, mantendo-se mais próximos a eles até os cinco anos, ao menos, período considerado fundamental à modelagem do caráter, dos hábitos e dos comportamentos. Lembremos, com Emmanuel, que a “criança é um trato de terra espiritual que desenvolverá o que aprende, invariavelmente,de acordo com a sementeira recebida”.10
Antes da idade escolar, propriamente dita, o ideal seria que pelo menos um dos genitores, ou alguém responsável (avó, por exemplo), auxiliasse a criança na construção de valores morais e no fortalecimento dos laços familiares, a fim de que a criança aprenda a viver (e sobreviver) com equilíbrio em uma sociedade hedonista, consumista e competitiva qual a em que estamos inseridos.
Tratá-los à conta de enfeites do coração será induzi-los a funestos enganos, porquanto, em se tornando ineficientes para a luta redentora, quando se lhes desenvolve o veículo orgânico facilmente se ajustam ao reflexo dominante das inteligências aclimatadas na sombra ou na rebeldia, gravitando para a influência do pretérito que mais deveríamos evitar e temer. É assim que toda criança, entregue à nossa guarda, é um vaso vivo a arrecadar-nos as imagens da experiência diária, competindo-nos, pois, o dever de traçar-lhe noções de justiça e trabalho, fraternidade e ordem, habituando-a, desde cedo, à disciplina e ao exercício do bem, com a força de nossas demonstrações, sem, contudo, furtar-lhe o clima de otimismo e esperança. Acolhendo-a, com amor, cabe-nos recordar que o coração da infância é urna preciosa a incorporar-nos os reflexos, troféu que nos retratará no grande futuro, no qual passaremos todos igualmente a viver, na função de herdeiros das nossas próprias obras.11
O desafiante momento da existência no Planeta, denominado Transição, demonstra que, mais do que se imagina, a vida em família é considerada peça fundamental na engrenagem evolutiva do ser, elemento determinante da felicidade futura. “Assim, a família biológica é célula inicial do organismo em geral em que todos se movimentam”12, assinala Amélia Rodrigues. Nestes termos, o nascimento e a educação de filhos não podem ser considerados um desprazer, algo que pode ser delegado (“terceirizado”) a outrem: “Viver em família é a melhor solução para a prevenção de distúrbios de desenvolvimento físico, emocional e cognitivo”.13
Resulta daí o aumento de mensagens provenientes do plano espiritual, de entidades sofredoras e de benfeitores que, em síntese, alertam: “A família doméstica, portanto, não é resultado apenas da união daqueles que se amam, porém, de todos quantos se necessitam, a fim de que se ajudem uns aos outros, gerando dependência afetiva. [...] Os pais terrestres são instrumentos transitórios da Divina Sabedoria, que deles se utiliza para o aperfeiçoamento das almas no seu processo de elevação. [...]”

1CAPELATTO, Ivan; FILHO, José Martins. Cuidado, afeto e limites. Uma combinação possível. 4. ed. Campinas, SP: Papirus, 2011. p. 43-44. 
2FRANCO, Divaldo P. SOS família. Por Joanna de Ângelis e outros Espíritos. 2. ed. Salvador: LEAL, 1994. Família (Mensagem de Joanna de Ângelis), p. 17-18. 
3FILHO, José Martins. A criança terceirizada. Os descaminhos das relações familiares no mundo contemporâneo. 6. ed. Campinas, SP: Papirus, 2011. Cap. 6, p. 74. 
4______. ______. p. 76. 
5______. ______. p. 76-77. 
6______. ______. 70-71. 
7MARTINS, Christine Baccarat de Godoy; JORGE, Maria Helena Prado. Negligência e abandono de crianças e adolescentes: análise dos casos notificados em município do Paraná, Brasil. PEDIATRIA (SÃO PAULO) 2009, 31(3): 186-97. 
8XAVIER, Francisco C. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 13, p. 57. 
9KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 208. 
10XAVIER, Francisco C. Família. Espíritos diversos. 5. ed. São Paulo: CEU, 1986. Em família (Mensagem de Emmanuel), p. 18. 
11______. Pensamento e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 18. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 13, p. 59-60. 
12FRANCO, Divaldo P. A mensagem do amor universal. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 2008. Cap. 14, p. 81. 
13FILHO, José Martins. A criança terceirizada. Os descaminhos das relações familiares no mundo contemporâneo. 6. ed. Campinas, SP: Papirus, 2011. Cap. 6, p. 71. 
14FRANCO, Divaldo P. A mensagem do amor universal. Pelo Espírito Amélia Rodrigues. Salvador: LEAL, 2008. Cap. 14, p. 82.
Extraído da edição de julho de 2012 NNº 2200 • Julho 2012º 2200 • Julho 2012

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Chico Xavier, meu presente e a emoção indescritível


                                     Fátima Farias  



                              
         Há momentos inesquecíveis em nossas vidas.  Existem também presentes especiais que, ao invés dos convencionais, embalados num papel, vem revestido de pura emoção. Faz dez anos que fui contemplada com ambos e continuam repercutindo na minha alma. Fiz questão de olhar o relógio para gravá-los, na minha memória e coração, quando os recebi. Aconteceu dia 28 de março de 2002, às 23h40, de uma quinta-feira, quando fiquei frente a frente com Chico Xavier.  
             Cheguei ao seu lar, acolhida pela excelente receptividade do seu filho, Eurípedes Higino, e o presente da feliz oportunidade, concedido pela amiga Lisle Lucena, que desfrutou da amizade de Chico por mais de quinze anos. Aquele encontro foi um misto de felicidade e emoção, além da realização de um sonho. Só o fato de ingressar no seu ambiente familiar  era suficiente para ser tomada por aquela vibração energética. Já ouvira falar que era assim, mas sinto dificuldade em reproduzir aquela sensação que dele emanava. Simplesmente indescritível! 
              Viajei da capital paraibana,  João Pessoa, acompanhada dos amigos Severino Celestino e sua esposa Graça, Bob Vagner e Iliseu Garcia, para passarmos a Semana Santa em Uberaba  (MG). Do grupo, tive um privilégio maior, ao ficar hospedada com Lisle na residência de Chico. Assim pude conviver com o dia-a-dia daquele ser especial e entender porque era tão amado e respeitado acima de credo religioso. Com o relato desta experiência, publicada no jornal O Norte, onde trabalhava na época, considero a reportagem mais marcante da minha carreira jornalística. Também está registrada, com mais detalhes, no meu livro ‘Encontro com Consciências – Diálogo da unidade com a diversidade’.
        Após o nosso primeiro encontro, uma surpresa maravilhosa. Era noite da sexta-feira, 29 de março. Estávamos na sala eu, Lisle, e a dupla de músicos brasilienses, Carlos Maurício e Izaltino Júnior, que foi tocar para o médium. Acompanhado de seu filho Eurípedes, Chico chega para assistir ao Jornal Nacional e o capítulo da novela O Clone. Ele fez referências ao noticiário, lamentou os conflitos anunciados no Oriente Médio, elogiou a beleza da atriz Giovanna Antonelli, que fazia o papel de Jade, e gostou de ver o baile que passava na novela.

           Transfusão energética - A seguir, naquela sala, aconteceu o ponto alto de minha convivência com Chico Xavier. Eurípedes, o filho adotivo, sentado ao seu lado e fazendo-lhe carinho, saiu por uns instantes e eu ocupei seu lugar. Segurei a mão esquerda de Chico e, ao afagá-la, ele me olhou carinhosamente e sorriu. Instantes depois pensei em soltá-la para deixá-lo confortável, mas, para minha surpresa, era ele quem segurava minha mão direita. Foi quando senti uma vibração tão forte, bombardeando meu ser, como se fora uma transfusão energética. Haja coração! É uma emoção sempre revivida quando relembro.
           Cerca de uma hora depois, Chico pediu para se recolher, deu boa noite e beijou as nossas mãos. O músico Carlos Maurício disse-lhe: ‘O senhor é muito importante’. Ele respondeu: ‘Eu sou muito pequenino’, repetindo a demonstração de humildade, tão peculiar em sua trajetória.
         Ao longo dos quatro dias em Uberaba, convivendo de perto com Chico Xavier, este período foi pontilhado de momentos marcantes. No sábado, os quatro amigos paraibanos chegam do hotel para o almoço com Chico, em sua casa, para um seleto número de convidados. Todos foram unânimes em sentirem-se presenteados e a demonstrar a emoção sentida e expressar felicidade. Era almoço regado a lágrimas. 
Flash da formação da fila para recebimento da cesta básica, no 
Grupo Assistencial Francisco Cândido Xavier

         À tarde fomos ao Grupo Assistencial Francisco Cândido Xavier para assistir e registrar a distribuição de cestas básicas, agasalhos e brinquedos para crianças e enxovais às gestantes. A equipe iniciou os trabalhos com prece, leitura e comentário do Evangelho, fazendo assim a ponte do trabalho social com a assistência espiritual.

           Ecumenismo em ação – Observei que a tendência ecumênica fazia parte do dia-a-dia de Chico Xavier. Primeiro pelo respeito e assistência que ele recebia e tinha para com as pessoas, independentemente de credo. Na copa, onde ele passava grande parte do dia, e no seu quarto, simples como como ele mesmo, esculturas e imagens de Nossa Senhora. Do micro system ecoavam músicas eruditas, mas também as do estilo romântico de Roberto Carlos, Nossa Senhora, Ave Maria, Padroeira e outras do gênero. Como sua hóspede, percebi que a boa energia do ambiente, bastante simples, mas aconchegante, era saudada logo cedo da manhã pelo canto dos bem-te-vis.
           Bastante carinhoso com os seres em geral, Maria Higino Miranda, que trabalhou vários anos com Chico, revelou que ele não permitia a dedetização da casa, para não matar os insetos. Outra peculiaridade, relatada por Maria, é que Chico era tão atencioso com as pessoas que o rodeavam que ele fazia questão de confeccionar, artesanalmente, os cartões de saudação que enviava por ocasião de datas especiais. Uma espécie de hobby que ele cultivava.

          Comemoração do último aniversário de Chico Xavier

           No sábado, 30 de março de 2002, participamos da festa de seu último aniversário (ele completaria 92 anos, dia 2 de abril) e exatamente três meses depois ele se despedia do Planeta, quando nós, brasileiros, comemorávamos o pentacampeonato mundial de futebol. Mas naquela noite de sentimos, testemunhamos e compartilhamos de pura emoção.



Chico Xavier no Grupo Espírita da Prece, no dia do aniversário,
com a medalha que recebeu do Rotary Clube de São Paulo 

           Eram 19h40 quando Chico chegou para a reunião no Grupo Espírita da Prece.  Foi recepcionado por uma multidão com gritos, aplausos e emoção. Todos queriam tocá-lo ou, pelo menos, vê-lo de um melhor ângulo. Muitos haviam chegado ao local cedo da manhã, para conseguir um lugar privilegiado na fila. Os portões de acesso abriam às 16 horas. Era um gesto repetido há décadas, aos sábados.
A imprensa buscava depoimento de pessoas que viajavam milhares de quilômetros exclusivamente para isso. A tarefa era fácil, pois ali estava gente de todas as idades, classes sociais, credos e recantos do Brasil. Durante o dia, constatado num city-tour, placas de ônibus indicavam origem de diversas localidades. Fui informada que os hotéis estavam superlotados.
         Enfim, eu e os amigos paraibanos fomos protagonistas e, ao mesmo tempo, espectadores daquelas doces lembranças, regadas a momentos de muita emoção. Chico ocupou seu lugar na cabeceira da mesa. Começou a reunião com uma prece, seguida da leitura do Evangelho e comentário  da  senhora Marilene Paranhos Silva. Ela ilustrou sua palestra destacando a importância de Deus em nossas vidas e dos exemplos de humildade e amor de Cristo e de Chico Xavier, respectivamente. ‘Com todo respeito a outros missionários, mas não se tem notícias de uma pessoa que haja dedicado mais de 75 anos de sua vida ao trabalho de amor ao próximo. Chico Xavier é um missionário de luz, conforto, amor e alegria’, destacou.
Concluída esta parte dos trabalhos, com uma prece final, foi formada  a fila para os cumprimentos a Chico Xavier. Expectativa, emoção, alegria eram sentimentos expressos nas fisionomias. Incansável, ele recebeu até o último da fila, com a mesma atenção, carinho e alegria. Foi beijado e beijou as mãos de cada um. Eu que experimentei, falo com conhecimento de causa: a vibração daquele gesto é indescritível. Muita gente já chorando, muito antes de se aproximar. Cada pessoa recebia uma fatia do bolo de aniversário com refrigerante.
        Chico Xavier recebeu diversas homenagens artísticas. O Rotary Clube de São Paulo concedeu-lhe uma medalha. Questionado por um jornalista sobre um presente que ele gostaria de receber, respondeu: ‘a paz de Deus para o mundo’, reafirmando a sua trajetória de viver mais em prol dos outros do que de si próprio.
        Quando deixou o Grupo Espírita da Prece mais aclamação do público, num momento em que uma bela lua cheia no horizonte completava a homenagem e parecia também saudá-lo. Obrigada Chico pela felicidade de conviver com sua energia. Você que agora é luz plena, em algum lugar deste imenso Universo!
 
Comitiva da PB com os Eurípedes: Tahan (médico de Chico) e Higino (o filho)

                          ANTES DE CHEGAR À UBERABA
 
 No aeroporto de Belo Horizonte encontramos  
a dupla Pedro e Tiago e aí está o registro

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Espiritualidade fará parte de histórico médico daqui a alguns anos, afirma especialista

Há algum tempo, hospitais e médicos vêm utilizando a espiritualidade como aliado no processo de cura do paciente. Apesar de ser um assunto polêmico, muitos pesquisadores já apontam um papel positivo da espiritualidade e religiosidade em doenças coronarianas, hipertensão arterial, ansiedade, depressão, função imune e mortalidade em geral.

“De uma maneira geral, as pessoas interpretam todos os acontecimentos de sua vida sob uma visão espiritual e conhecer e respeitar esta interpretação é de grande ajuda para o doente e para o profissional que o assiste”, acredita Islan Nascimento, otorrinolaringologista e presidente da Associação Médico-Espírita da Paraíba.

Segundo ele - que coordenará um encontro sobre o assunto a partir desta quinta-feira (7) - o tema vem ganhando cada vez mais destaque. Para se ter uma ideia, de 1980 a 1982 o tema foi pesquisado e publicado em 101 artigos de revistas indexadas. De 2003 a 2005, foram 1,8 mil. Desde 2000, foram quase três mil artigos. “A medicina é baseada em pesquisas. Há 20 anos, ninguém questionava o paciente sobre seu histórico sexual. O tema era visto como algo particular. Hoje, é procedimento-padrão. Daqui a 20 anos isso acontecerá com a espiritualidade, que vem conquistando espaço nos consultórios e até na vida de artistas", complementa Islan Nascimento.

É o caso, por exemplo, do ator Reynaldo Gianecchini. Na luta contra um câncer linfático, o ator global decidiu aliar o tratamento convencional ao espiritismo, e parece não ter se arrependido. Em várias entrevistas concedidas, Reynaldo Gianecchini afirmou que o procedimento o deu forças para lutar pela cura, com tranquilidade.

E o ator não está sozinho neste pensamento. Segundo a revista Veja, cerca de 80% de pacientes vítimas de câncer no Brasil, recorrem a medicinas alternativas, geralmente ligadas à religiosidade, para complementar o tratamento alopático.

"Os dados são reais, mas só recentemente a medicina passou a reconhecer a existência de tais práticas", afirma Islan Nascimento, antes de concluir: "Existem estudos comprovando que a fé tem efeitos positivos na saúde das pessoas. Esses pacientes se sentem mais otimistas em relação ao sucesso dos tratamentos convencionais e, assim, além de se cuidarem mais, eles colaboram mais com os médicos. O objetivo é sempre usar o melhor da medicina convencional e o melhor da medicina complementar em defesa do doente".

Encontro nesta quinta abordará saúde e espiritualidade

Deixando de ser apenas "teoria" para se tornar realidade, a espiritualidade no processo de cura virou assunto sério nos consultórios e até de encontros científicos. A exemplo do 7º Encontro das Associações Médico-Espírita do Norte e Nordeste (Encontrame), que será realizado em João Pessoa, entre quinta e sábado desta semana, na Federação Espírita da Paraíba, na Torre.

Voltado para médicos, estudantes e profissionais de saúde e aberto ao público em geral, o encontro trará à capital paraibana, a presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil e Internacional, Marlene Nobre. A médica, que trabalhou com o médium Chico Xavier, ministrará a palestra de abertura do evento (Atualidade Científica na obra psicográfica de Chico Xavier), às 20h30.

Durante os dias do evento, especialistas da Paraíba, Pará, Ceará, Alagoas, Pernambuco, Piauí, Minas Gerais e São Paulo abordarão assuntos relativos ao tema central: "Saúde, Ciência e Espiritualidade". Entre eles, aborto do anencéfalo, células-tronco, Experiência de Quase Morte e Transtorno Bipolar.

ATIVIDADES PARALELAS

Paralelamente ao Encontro também serão realizados a 2ª Jornada Médico-Espírita Paraibana e o 1º Encontro Acadêmico em Saúde e Espiritualidade. Na ocasião, alunos universitários poderão apresentar trabalhos científicos sobre o tema. Os melhores trabalhos serão publicados na revista do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

O 7º Encontro das Associações Médico-Espíritas do Norte e Nordeste está sendo promovido pela Associação Médico-Espírita da Paraíba e pela Associação Médico-Espírita de Campina Grande, em parceria com a Unimed JP e com outras instituições do Estado.

Mais informações podem ser obtidas no blog da AME-PB (http://amepb.blogspot.com.br/).

Assessoria

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Paternidade responsável

Clara Lila Gonzales de Araújo
“E havia certo oficial, cujo filho estava enfermo em Cafarnaum. Ele, ao ouvir que Jesus viera da Judeia para a Galileia, foi até ele e rogava-lhe que descesse e curasse seu filho, pois estava prestes a morrer. [...] O oficial diz para ele: Senhor, desce antes que meu filho morra. Jesus lhe diz: Vai, o teu filho vive. O homem acreditou na palavra que Jesus lhe havia dito e partiu. Ele já estava descendo, quando os servos o encontraram, dizendo que o filho dele vive.” (João, 4:46-47 e 49-51.)1
A belíssima passagem da cura do filho de um oficial em Cafarnaum, narrada por João, destaca importante mensagem a ser refletida por nós, não apenas pela capacidade de Jesus em transmitir energias curadoras - efeito de seu extraordinário poder de agir sobre os fluidos apropriados, capazes de sarar, de forma instantânea, dores e males diversos –, mas pela singularidade da situação vivida por aquele pai que foi ao encontro do Mestre, esperançoso de salvar o filho. Apesar de sua situação de militar régio, que o destacava na sociedade judaica daquela época, não teve dúvidas em procurar Jesus para pedir-lhe ajuda.
O ato qualifica-o como pai amoroso e bom, preocupado com a grave situação familiar, e como homem submisso e cheio de fé na missão providencial do Cristo, certificando-se da grandeza do patrimônio divino, ao testemunhar a redenção do seu amado filho, e da magnitude da graça que havia recebido.
Esse episódio evangélico serve-nos como referência para a análise da lamentável situação espiritual de determinados homens, em desacordo com o expressivo preceito cristão, destacado anteriormente, que abandonam suas responsabilidades junto aos filhos gerados, na maioria das vezes negando a paternidade, afastando-se da parceira e provocando, “[...] naturalmente, em numerosas circunstâncias, o colapso das forças mais íntimas naquela que se viu relegada a escárnio ou esquecimento”.2 Espíritos encarnados que falham como pais, fugindo de suas obrigações no círculo doméstico e renunciando ao compromisso de viver ao lado dos filhos, alguns recém-nascidos, do que sobrevêm inúmeras crises futuras para aqueles que se sentem largados e desprezados por seus genitores, qualquer seja o meio social e econômico em que reencarnem.

A decisão de se querer comprovar a progenitura, por meio de exames da Medicina hodierna que contribuem para o reconhecimento biológico de filiação da criança em desamparo, concede ao filho determinadas vantagens pecuniárias ao ser confirmada a sua descendência, no entanto, tais recursos não invalidam a fraqueza, a negligência e a ignorância moral que são tendências perniciosas cultivadas pelo pai em prejuízo do pequenino ente desprezado. Essas providências médicas e jurídicas, entretanto, nem sempre são utilizadas por certas mães que se constrangem, envergonhadas, e preferem se desvincular de qualquer relacionamento com o agressor, tentando, individualmente, refazer a estabilidade de sua vida social e econômica em benefício do rebento a ser amparado. Mesmo considerando que a companheira prejudicada tenha a liberdade de se empenhar na luta em prol do seu reequilíbrio, é necessário que ela faça “revisão criteriosa do próprio comportamento para verificar até que ponto haverá provocado a agressão moral sofrida”,3 ao ter os elos afetivos rompidos de forma traumática.

Esse delicado assunto nem sempre é avaliado com a preocupação de se buscar soluções éticas e morais que contribuam para o equilíbrio espiritual das partes lesadas. A dor sentida pelos seres relegados ao abandono pode se transformar em procedimentos destoantes de uma vida mental e condição emotiva estáveis. Se alguma coisa se modifica na organização afetiva de um ser humano, ela repercute em todo o indivíduo, influenciando na sua capacidade intelectiva, nas suas atitudes e no seu comportamento. Algumas mães se ressentem tanto do abandono do parceiro que se tornam pessoas depressivas, amargas, sem esperanças; tornam-se irritadas, pouco afetivas e retraídas, e sentem-se desamparadas diante das necessidades filiais. Outras mulheres apegam-se em demasia aos filhos, expressando excesso de afeição e sentimento exagerado de conduta maternal. Além daquelas que, magoadas, negligenciam completamente os cuidados a se ter para com a criança! “[...] Apenas o amor que sabiamente se divide, em bênçãos de paz e alegria para com os outros, é capaz de multiplicar a verdadeira felicidade.”4

De que forma esses temas são tratados pelos autores espirituais?
Alertam-nos os Espíritos superiores sobre os cuidados que a mãe e o pai devem ter para com seus filhos:

É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem, e lhes facilitou a tarefa dando àquele uma organização débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões. [...] Se este vier a sucumbir por culpa deles, suportarão os desgostos resultantes dessa queda e partilharão dos sofrimentos do filho na vida futura, por não terem feito o que lhes estava ao alcance para que ele avançasse na estrada do
bem.5


Muitos jovens, infelizmente, sucumbem, considerando os efeitos desastrosos que surgem da negligência dos pais no encaminhamento de suas vidas terrenas, entre eles o uso pernicioso de bebidas alcoólicas e de drogas ilícitas. Preponderâncias nocivas que são causadoras de graves problemas existentes no mundo, aplicáveis a uma parte da juventude atual, que parece priorizar certos defeitos, tais como: um ceticismo amargo e zombeteiro, transformando-os em homens e mulheres egoístas e indiferentes ao sofrimento alheio, em meio a conflitos de interesses pelas causas materiais, que parecem dominar suas expectativas para o futuro. Sobre o problema, Allan Kardec destaca os resultados da falta da boa educação moral, que consiste  para elena “arte de formar os caracteres”, porquanto “a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos”:

[...] Considerando-se a aluvião de indivíduos que todos os dias são lançados na torrente da população, sem princípios, sem freio e entregues a seus próprios instintos, serão de espantar as consequências desastrosas que daí decorrem? Quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem terá no mundo hábitos de ordem e de previdência para consigo mesmo e para com os seus, de respeito a tudo o que é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar menos penosamente os maus dias inevitáveis. [...] Esse o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, o penhor da segurança de todos.6

Outro gravíssimo problema, entre as várias abordagens que essas questões suscitam, refere-se, especialmente, à irresponsabilidade dos jovens que, desejando viver em desregramento sexual, tornam-se pais imaturos, sem aceitarem a filiação, entregando seus filhos aos avós para que eles os criem e assumam a incumbência de assisti-los em suas necessidades básicas, permitindo-lhes buscar novas e desvairadas experiências juvenis. A mentora Joanna de Ângelis, nobilíssima educadora espiritual, traz à tona essa situação, alertando-nos:

Habitem ou não os avós no mesmo núcleo, a sua deve ser uma conduta afável, sem interferências diretas no comportamento dos educadores. A sua experiência é-lhes válida, no que diz respeito aos seus compromissos em relação aos demais membros do clã, havendo cessado, ao concluir a educação dos filhos e deixando-os agora assumir os próprios deveres.7

Muitas vezes, pelos descomedimentos de mimos concedidos aos netos, os avós respondem “pelas extravagâncias desses órfãos de pais vivos”.8 Os jovens deveriam arcar com as obrigações ao escolherem os seus parceiros, aceitando, por amor, as lutas árduas e difíceis que travarão para a construção de uma vida a dois, tendo como primeiro dever os cuidados a oferecer ao ser em formação e ter o apoio de seus pais, cuja contribuição não deve ultrapassar os limites da sua condição de familiares e amigos, que compreendem a situação com tolerância e carinho.
Enquanto ignorarmos o alcance dos atos que cometemos, sobretudo os prejudiciais às demais pessoas, e suas consequências em nossos destinos, não conquistaremos melhoria espiritual. O problema é acima de tudo moral, e seremos infelizes enquanto praticarmos o mal.
É preciso fazer a parte que nos cabe para a renovação da sociedade! Indicamos, como providência de máxima relevância para este programa regenerador, o aprofundamento de estudos nas instituições espíritas, contribuindo para que os pais possam ampliar os seus conhecimentos sobre assuntos pertinentes à família e à educação num enfoque essencialmente espírita, à luz do Evangelho de Jesus.

Referências:

1DIAS, Haroldo D. (Trad.) O novo testamento. Brasília: Edicei, 2010.
2XAVIER, Francisco C. Vida e sexo. Pelo Espírito Emmanuel. 26. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 10, p. 51-52.
3______. ______. p. 53.
4______. ______. Cap. 11, p. 58.
5KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Guillon Ribeiro. 91. ed. 2. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 582.
6______. ______. Comentário de Kardec à q. 685.
7FRANCO, Divaldo P. Constelação familiar. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2008. Cap. 6, p. 50.
8______. ______. p. 51-52.


Publicado originalmente na revista Reformador (Edição - Maio de 2012)

terça-feira, 22 de maio de 2012

O dinheiro na Casa Espírita

Wellington Balbo

Se há um assunto ainda melindroso, um autêntico espinho para nós espíritas é o tema dinheiro.

Temos sérias dificuldades em lidar com questões pecuniárias.Parece-nos que o dinheiro é algo sujo, pecaminoso e que macula a figura de quem dele se serve.

No entanto, a bem da verdade é que o dinheiro é neutro, ou,melhor dizendo, uma ferramenta para fazer com que as coisas aconteçam.

Logo está subordinado ao destino que lhe empregam. Se o utilizam para o mal ou para o bem a culpa não é dele – do dinheiro – mas, sim, de quem fez seu uso. É a mão do homem que suja ou limpa e não o objeto em si. Mas qual a razão de ainda termos dificuldades em lidar com o dinheiro? Será que já paramos para promover esta reflexão íntima? Pode ser, quem sabe, que nosso modelo mental esteja obsoleto, ultrapassado e ainda vejamos no papel moeda uma autêntica tentação à moral e ética. Porém, reflitamos:

Quem paga as contas de luz e água da Casa Espírita? Os funcionários, quando esta os tem? Quem paga as despesas com limpeza e tantas outras que bem o sabemos existem? Dirão alguns: Daí de graça o que de graça recebestes. Excelente!

Jamais o centro espírita irá cobrar por reunião mediúnica, passe, atendimento fraterno e etc. Todavia, sejamos sensatos: É necessário dinheiro para pagar as despesas acima! Seria justo apenas alguns colaboradores doarem? Seria justo usufruirmos de todos os benefícios que recebemos sem ao menos cogitarmos de colaborar financeiramente com qualquer quantia? Por favor, não digam que estou querendo manchar a Casa Espírita ou impor valores instituindo o dízimo. Não merefiro a dízimo. Nada disso!

Falo de bom senso. O bom senso de sabermos que é de bom tom colaborar para que as coisas aconteçam, porquanto, quer queiramos ou não, o dinheiro é necessário para a manutenção e ampliação das atividades de qualquer Casa Espírita.

Obviamente que não me refiro àqueles que passam por dificuldades financeiras. Falo de bom senso, apenas isso! Questionarão alguns: Mas já dou minha colaboração na Casa Espírita e ainda preciso colaborar financeiramente? Não se trata disso, caro leitor. Você não precisa nada, se não quiser ninguém lhe obrigará a dar um centavo na Casa Espírita. Falo, repito, debom senso, apenas isso! A demais não é a Casa Espírita que precisa de nós, ao contrário, somos nós quem precisamos da Casa Espírita e dos trabalhos que ela desenvolve para que mantenhamo-nos sempre trabalhando e dispostos a evoluir.

No entanto, para não me alongar demais neste texto, convido todos nós a reflexões:

Como enxergamos o dinheiro? Algo sujo, pecaminoso e que não pode se envolver em assuntos “espirituais”, leia-se aqui Casa Espírita? Ou o vemos como uma ferramenta para promover o progresso humano na Terra? Como estamos lidando com esta questão? Que tal chacoalharmos os neurônios e indagarmos nossos próprios modelos mentais?

Pensemos nisso.


Artigo publicado originalmente no Site da Fundação Espírita André Luiz (FEAL)

domingo, 20 de maio de 2012

O espírita ante a política

Christiano Torchi
 Em sentido lato, a política se entrecruza com várias outras ciências, entre elas a Filosofia, a História, a Economia, o Direito... Entretanto, é com a Sociologia que ela possui laços mais estreitos, visto que tem seu nascedouro na própria sociedade. Segundo essa visão, inspirada em Aristóteles, o homem é um animal social e político. Herança da Grécia antiga, berço da democracia, o termo política deriva-se do grego politikós, alusivo às antigas cidades gregas organizadas (pólis), que teriam dado origem ao modelo de vida urbano contemporâneo, onde os homens se aglomeram em busca da sobrevivência e do progresso, sujeitando-se a uma administração pública regulada por normas coletivas de convivência.

Na Idade Média, Tomás de Aquino (1225-1274) já preconizava que a finalidade da política é o bem comum. Modernamente, a política é designada como a “Ciência do Estado”, podendo ser definida como a arte de governar. Sob esse prisma, ela será sempre o exercício de alguma forma de poder. Quando utilizada corretamente, gera bem-estar e prosperidade, bem assim contribui para a manutenção da paz e da ordem. O Espiritismo abrange todas as áreas do conhecimento, sob tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso, razão pela qual não está alheio à Ciência política ou a qualquer outro ramo do conhecimento humano. Todavia, o Espiritismo não tem por missão específica fazer reformas sociais, mas, pela amplitude dos seus ensinamentos, é a doutrina mais apta a coadjuvar tais reformas, à medida que influencia a sociedade, estimulando o aprimoramento moral, sem que seja preciso acumpliciar-se com a política partidária, em contradição com o caráter laico1 do Estado:

[...] A missão da doutrina é consolar e instruir, em Jesus, para que todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida. Trocá-la por um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do progresso universal, depreendendo-se daí que a verdadeira construção da felicidade geral só será efetiva com bases legítimas no espírito das criaturas.2

A seu turno, qual seria a missão dos espíritas, enquanto homens no mundo? Sem embargo da tarefa de divulgação e da vivência dos princípios da Doutrina Espírita, ela é a mesma de qualquer indivíduo, religioso ou não, como elucidam os Espíritos na primeira obra básica. Consiste “em instruir os homens, em ajudá-los a progredir, em melhorar suas instituições, por meios diretos e materiais”.3 Nesse contexto, será mesmo útil e necessário, para que o Espiritismo cumpra sua missão, a politização do Movimento Espírita, como defendem alguns? Parece-nos equivocada a ideia de que o Movimento Espírita careça de engajar-se na militância política, fundando partidos ou organizando bancadas, como forma de se fazer representar perante os poderes constituídos, com o objetivo de divulgar, oficialmente, os seus princípios, colaborando, assim, com a reforma social, no combate às mazelas sociais.

De má lembrança são as conspurcações que o movimento cristão primitivo sofreu (e que o Espiritismo intenta restaurar na atualidade), sobretudo a partir do século III, momento em que se deixou seduzir pela política de Roma, cujo império estertorava graças aos abusos da governança. É óbvio que o espírita, individualmente, não está impedido de exercer a política. Se tiver vocação para isso e for chamado para essa tarefa, deve atender ao clamor de sua consciência e procurar exercê-la com dignidade, como fizeram tantos outros espíritas, por exemplo, Bezerra de Menezes, Eurípedes Barsanulto, Cairbar Schutel e José de Freitas Nobre. Se isso vier a acontecer, espontaneamente, que jamais nos apartemos das diretrizes traçadas por André Luiz, que nos alerta sobre as tentações e os perigos de confundirmos “os interesses de César com os deveres para com o Senhor”.4

Diante disso, não é recomendável que os políticos, simpatizantes ou adeptos do Espiritismo, façam da tribuna espírita um palanque. Jesus, nosso guia e modelo, quando esteve entre nós, jamais postulou ou se valeu do poder político estatal para pregar a implantação do “Reino de Deus” na Terra. Não é a Doutrina Espírita que precisa da política e sim a política que precisa do Espiritismo. Isto é, progredindo moralmente, por influência do Espiritismo, a sociedade prepará, de forma natural, bons políticos e até estadistas para atuarem nas instituições públicas:

O discípulo sincero do Evangelho não necessita respirar o clima da política administrativa do mundo para cumprir o ministério que lhe é cometido. O Governador da Terra, entre nós, para atender aos objetivos da política do amor, representou, antes de tudo, os interesses de Deus junto do coração humano, sem necessidade de portarias e decretos, respeitáveis embora. Administrou servindo, elevou os demais, humilhando a si mesmo.
Não vestiu o traje do sacerdote, nem a toga do magistrado. Amou profundamente os semelhantes e, nessa tarefa sublime, testemunhou a sua grandeza celestial. Que seria das organizações cristãs, se o apostolado que lhes diz respeito estivesse subordinado a reis e ministros, câmaras e parlamentos transitórios? [...]5

Por isso mesmo, “Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando julga conveniente, e a retira quando bem o entende”.6 Emmanuel, tal qual André Luiz, também abordou essa questão delicada. Respondendo à pergunta: “Como se deverá comportar o espiritista perante a política do mundo”,7 aconselhou:

– O sincero discípulo de Jesus está investido de missão mais sublime, em face da tarefa política saturada de lutas materiais. Essa é a razão por que não deve provocar uma situação de evidência para si mesmo nas administrações transitórias do mundo. E, quando convocado a tais situações pela força das circunstâncias, deve aceitá-las não como galardão para a doutrina que professa, mas como provação imperiosa e árdua, onde todo êxito é sempre difícil. O espiritista sincero deve compreender que a iluminação de uma consciência é como se fora a iluminação de um mundo, salientando-se que a tarefa do Evangelho, junto das almas encarnadas na Terra, é a mais importante de todas, visto constituir uma realização definitiva e real. 
Não devemos pedir ao Espiritismo o que ele não nos pode dar.8 A estratégia equivocada de Judas que, embora bem intencionado, pretendia utilizar a política terrena, para acelerar o processo de implantação do Evangelho na Terra, é uma advertência perene a todos nós, pois “as conquistas do mundo são cheias de ciladas para o espírito e, entre elas, é possível que nos transformemos em órgão de escândalo para a verdade que o Mestre representa”.9 A Humanidade progride por meio dos indivíduos, que se melhoram pouco a pouco. É pelo desenvolvimento moral que se reconhece uma civilização completa.
Os povos que só vivem a vida do corpo, cujo poder se baseia apenas na força e na extensão territorial, um dia fenecerão, pois a vida da alma prevalece sempre: [...] Aqueles cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador, viverão e servirão de farol aos outros povos.10
Todos podemos contribuir com nossa parte para acelerar as esperadas mudanças sociais: “A responsabilidade pelo aperfeiçoamento do mundo compete-nos a todos”.11 O Espiritismo não depende da política terrena para atingir seus fins. Triunfará, porque se funda nas leis naturais, sem que seja necessário violentar a consciência dos incrédulos. Deus não conduz o homem por meio de prodígios, mas deixa que tenha o mérito da própria conquista, que se dará, mais cedo ou mais tarde, pelo convencimento da razão. Que estas breves reflexões fortaleçam a esperança de todos os que mourejam na seara espírita, para que o Brasil consiga realizar a missão redentora da qual é depositário. Mais importante que as colossais riquezas naturais do seu vasto território é a imensa diversidade racial, social e religiosa de seu povo. Se soubermos vivenciar o Evangelho, conforme Jesus ensinou, inevitavelmente faremos jus à vocação assinalada pelos Espíritos superiores de “coração do mundo, pátria do Evangelho”.

Referências: 
1Estado laico não é o mesmo que Estado ateu.Mantém neutralidade em matéria confessional, não adotando nem perseguindo nenhuma religião (ver Preâmbulo e art. 19 da Constituição Federal brasileira).
2XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 60.
3KARDEC,Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 573.
4VIEIRA, Waldo. Conduta espírita. Pelo Espírito André Luiz. 31. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 10, p. 46.
5XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 59, p. 137.
6KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 17, it. 9, p. 346.
7XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 28. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 60.
8KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. Trad. Guillon Ribeiro. 2. ed. esp. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Pt. 2, cap. 27, it.303, subit. 1, p. 476.
9XAVIER, Francisco C. Boa nova. Pelo Espírito Humberto de Campos. 3. ed. 5. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Cap. 24, p. 200.
10KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Q. 788.
11XAVIER, Francisco C. Libertação. Pelo Espírito André Luiz. 31. ed. 4. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 3, p. 46.



Extraído da Revista Reformador

terça-feira, 15 de maio de 2012

Entrevista de Fátima Farias ao jornalista Orson Carrara, editor do portal O Consolador

Confira na íntegra
Fátima Farias: 
“A vida é um perene aprendizado” 
A jornalista paraibana fala sobre o movimento espírita na Paraíba
e suas atividades na divulgação espírita
 
 

Maria de Fátima Farias (foto), mais conhecida no meio espírita como Fátima Farias, natural de Boa Vista-PB e há 33 anos radicada na cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, é bacharel em Comunicação Social pela UFPB, com formação em Jornalismo e Relações Públicas.
Espírita desde 1994 e autora do livro “Encontro com Consciências – diálogo da unidade com a diversidade”, Fátima faz parte da equipe dirigente da Federação Espírita Paraibana, em que exerce o cargo de Assessora de Comunicação Social e vice-diretora do Depto. de Divulgação
Doutrinária.  
Na entrevista que gentilmente nos concedeu, ela fala sobre suas atividades e o movimento espírita paraibano.

Faça um perfil do movimento espírita na Paraíba.
Cada vez mais crescente, tanto em quantidade, mas, sobretudo, e o melhor, em qualidade.  Os longos mandatos dos presidentes da Federação Espírita Paraibana (em 96 anos foram apenas sete) têm favorecido toda a pavimentação do positivo panorama atual. Acredito que a ininterrupção, de certa forma, facilitou o progresso das ações. Cada um contribuindo para semear o que temos hoje. A trajetória está pontilhada por fatos interessantes. Estes detalhes podem ser conferidos no portal www.fepb.org.br, no link que trata da história da FEPB e nos perfis dos presidentes.
Em seu trabalho de divulgação espírita, o que mais lhe chama a atenção?
É a ausência de preconceito e a receptividade dos meus colegas jornalistas, tanto no sentido de repercutir as notícias quanto de me procurar, no convívio diário da Redação, para conversar ou obter maiores esclarecimentos sobre a Doutrina Espírita. Nunca enfrentei dificuldades para abrir e conquistar espaços. Aliás, divulgar a mensagem espírita é muito fácil, porque, por si só, ela desperta interesse e atrai a atenção de leitores, ouvintes e espectadores.

De que modo as entrevistas que tem tido oportunidade de preparar chamaram a atenção do público?
Entrevistei Divaldo Franco várias vezes, o neurofísico francês Patrick Drouout, o pastor Nehemias Marien, o arcebispo Dom Aldo Pagotto, os artistas Nando Cordel e Paulo Figueiredo, só para citar alguns. Pois bem, as pessoas que não liam o jornal no dia, mas que ouviam comentários da repercussão positiva, me solicitavam cópias da entrevista. Foi quando decidi reuni-las no livro “Encontro com Consciências – diálogo da unidade com a diversidade”, que reúne entrevistas com diversas personalidades. Proporciona ao leitor uma visão sobre a consciência atual e evolutiva do ser, num cunho ecumênico. Contém abordagens sobre ciência, filosofia, religião, arte e cultura.
Na elaboração de matérias, quais foram as mais marcantes?
A primeira foi sobre o Museu das Almas do Purgatório em Roma, cujo acervo legitima a comunicação de Espíritos na própria Igreja. O fato é que o parapsicólogo baiano Clóvis Nunes foi entrevistado no programa Fantástico, do dia 28 de outubro de 2001, sobre o assunto, por acompanhar a reportagem in loco. O detalhe é que ele me concedeu um furo, numa entrevista de página inteira, inclusive com chamada na capa, intitulada “Espíritos se comunicam na Igreja”, publicada no mesmo domingo. E assim os leitores do jornal O Norte conheceram as novidades logo cedo, enquanto os telespectadores só conferiram no final da noite. Outra matéria, que considero a mais marcante  da minha carreira, foi a reportagem sobre Chico Xavier. Tive a felicidade de passar a Semana Santa de 2002 hospedada em sua residência e participar das comemorações do seu último aniversário entre nós – 92 anos. Três meses depois ele deixou este planeta. Este foi um grande presente que recebi de minha amiga Lisle Lucena, que há vários anos desfrutava da amizade daquele ser especial e costumava ser sua hóspede. Cada vez que relembro daqueles dias e convívio com aquela energia tão salutar e indescritível – modelo do Cristianismo – ainda me emociono. Sinto-me privilegiada e gratificada! A reportagem completa está no final do meu livro. 
Como tem sido sua atuação na mídia espírita, especificamente?
Já participei de vários sites e colaboro com as revistas Tribuna Espírita e a Revista Internacional do Espiritismo. Recentemente inaugurei o blog  www.horizontes-fatimafarias.blogspot.com. É um espaço, como o próprio nome já sugere, onde abordarei os mais diversos assuntos voltados para temáticas ligadas a notícias do Bem, que favoreçam a difusão de aspectos artístico-culturais e a qualidade de vida, sobretudo à consciência atual e evolutiva do ser. 
Fale-nos algo sobre a programação da Federação Espírita da Paraíba.
Todos os departamentos estão em plena efervescência de ações, em todas as vertentes: cursos, assistência social, atendimento fraterno e mediúnico, infância e juventude. Na área de Comunicação Social e Divulgação Doutrinária, têm-se conquistado excelentes espaços na mídia, especialmente para difundir os eventos e esta avalanche de filmes espíritas, tem-se encartado diversos suplementos em jornais dominicais. Agora, um dos pontos altos para massificar a mensagem espírita é o projeto “Divulgando a imortalidade”, que acontece no período de Finados, com faixas e distribuição de mensagens nos cemitérios da capital e de diversos municípios.
Na capital e interior, a Doutrina Espírita igualmente tem despertado
interesse e busca por livros, estudos e cursos? Como tem sido a preparação  para essa nova fase de divulgação espírita no Estado?
A gestão do presidente José Raimundo de Lima contribuiu bastante para a expansão da mensagem espírita na Paraíba. Houve ampliação no número de centros espíritas, tanto na capital quanto no interior, além de um maior intercâmbio com a implantação de polos e coordenadorias regionais. A Federação Espírita da Paraíba (FEPB), inserida no contexto nacional da Federação Espírita Brasileira, dissemina todas as diretrizes federativas para viabilizar o máximo de potencial que contemple o estudo, a divulgação e o atendimento, à luz da Doutrina Espírita.
A confortável sede da FEPB propicia espaço muito favorável para eventos doutrinários. Comente sobre os eventos de caráter estadual utilizando a citada sede.
A mudança da sede para um espaço maior foi fundamental para a expansão das atividades e um melhor atendimento ao público: livraria ampla e com um acervo sortido, salas amplas para os cursos. Temos um centro de convenções, sendo o auditório maior com capacidade para mais de 800 pessoas, climatizado e com cadeiras confortáveis. Para se ter uma ideia da demanda do público, nas duas recentes visitas de Divaldo Franco foi preciso providenciar telão para acolher o público.
Deixe-nos uma mensagem final.
Acho que ainda tenho muito o que aprender, porque a vida é um perene aprendizado, para se burilar nossas imperfeições. Deus é uma luz e a energia que busco, no sentido de me nortear e fortalecer. E, assim, a mensagem em que mais o identifico é assinada por Léon Denis: ‘Tende como templo o Universo, como altar a consciência, como lei a Caridade, como imagem Deus’. Por fim, sou muito grata pela oportunidade de me fazer vivenciar a troca de papéis, de entrevistadora a entrevistada.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Acréscimo de misericórdia

“Procurai primeiramente o Reino de Deus e sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo.” (Mateus, 6:33; Lucas, 12:31.)

Clara Lila Gonzales de Araújo
É possível aquilatar a extensão das bênçãos que dimanam da misericórdia de Deus? Sabemos avaliar a amplitude das oportunidades que nos chegam, exercitando o amor ao próximo e incumbindo-nos de aplicar hoje o tempo, a energia e os esforços que desperdiçamos outrora? De acordo com o versículo acima, os resultados surgidos das conquistas de valores espirituais nos permitem receber, por acréscimo da generosidade divina, múltiplos ensejos de bem realizarmos iluminadas atividades, que procuramos vivenciar em meio a júbilos de esperança e paz. Essas manifestações, em forma de pensamentos, de conversações, de hábitos, de conduta, mercê da aquisição de ideais superiores, são propósitos que se exprimem em atos de caridade legítima, levando-nos a sentir a presença de Deus em nós e descobrindo o seu verdadeiro Reino. Entretanto, tornar-se espírita não é santificar-se de um momento para o outro, além de não significar privilégio, dadas as condições da justiça superior, que se manifesta em nós como consequência da lei de causa e efeito, mesmo considerando as lutas difíceis que travamos durante anos de dedicação e serviço em favor do Espiritismo. 

Constantino, Espírito protetor, na mensagem inserida em  O Evangelho segundo o Espiritismo, afirma, terminante: Bons espíritas, meus bem-amados, sois todos obreiros da última hora. Bem orgulhoso seria aquele que dissesse: Comecei o trabalho ao alvorecer do dia e só o terminarei ao anoitecer. Todos viestes quando fostes chamados, um pouco mais cedo, um pouco mais tarde, para a encarnação cujos grilhões arrastais; mas há quantos séculos e séculos o Senhor vos chamava para a sua vinha, sem que quisésseis penetrar nela! Eis-vos no momento de embolsar o salário; empregai bem a hora que vos resta e não esqueçais nunca que a vossa existência, por longa que vos pareça, mais não é do que um instante fugitivo na imensidade dos tempos que formam para vós a eternidade.1
 
Urge, desse modo, perseverar no trabalho a fazer, tendo a necessária paciência, sobretudo, ao enfrentar os rudes resgates que porventura surjam frente às surpresas da marcha existencial, sem nos entregarmos ao desânimo. Determinados companheiros espíritas não aceitaram essa realidade, deixando de alcançar planos mais elevados no cumprimento de suas tarefas e abandonando a esfera de lutas enobrecedoras. Sentiram-se inconformados, em meio às provações, por não terem seus desgostos diminuídos, sem aproveitar da aplicação dos ensinamentos doutrinários para melhor compreender a equidade divina, esquecendo-se de que, ao sofrermos os prejuízos de nossos erros, “por infinita misericórdia, devemos ter que Deus não é inexorável, deixando sempre viável o caminho da redenção”.2 Allan Kardec faz excelente análise sobre as implicações das penas futuras segundo o Espiritismo, advertindo: [...] todos têm o mesmo ponto de partida e nenhum se distingue em sua formação por melhor aquinhoado; nenhum cuja marcha progressiva se facilite por exceção: os que chegam ao fim, têm passado, como quaisquer outros, pelas fases de inferioridade e respectivas provas. [...] Todos somos livres no trabalho do próprio progresso [...]. O romeiro que se desgarra, ou em caminho perde tempo, retarda a marcha e não pode queixar-se senão de si mesmo.3 [...] Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade. A cada um segundo as suas obras, no Céu como na Terra: – tal é a lei da Justiça Divina.4
 
A disposição sincera de servir ao semelhante, que empreende-mos na labuta junto à seara de Jesus, procurando evoluir de forma perseverante, nos faz superar os padecimentos como meio de sanar os erros morais que cometemos em existências pregressas. Assim agindo, angariamos a simpatia dos Espíritos superiores que nos concedem amparo para concretização das inúmeras possibilidades que a prática do Espiritismo oferece, fortalecendo-nos e iluminando-nos para o futuro, devidamente elucidados pelo conhecimento espírita. Deus, pois, não cria seres privilegiados, mas “fez da felicidade o prêmio do trabalho e não do favoritismo, para que cada um tivesse seu mérito”.5 O Espírito Emmanuel faz referência às circunstâncias em que desencarnaram muitos dos grandes vultos da Humanidade, após a vivência de desmedidas agruras, como pessoas que foram: exiladas, trucidadas, ludibriadas, famintas, enfermas, perseguidas, endividadas, paupérrimas, indigentes, guilhotinadas, em penúria extrema, assassinadas etc., além das que viveram menos penosamente, mas não deixaram de enfrentar duras provas. Trata-se de um alerta para os infortúnios e reveses terrenos que parecem absurdos de serem experimentados por criaturas reconhecidamente valiosas e que contribuíram para o progresso do mundo. Nesse sentido, conclui o eminente mentor espiritual: [...] é forçoso reconhecer que passaram, entre os homens, também sofrendo e lutando, junto à bigorna do trabalho constante. Cada consciência é filha das próprias obras. Cada conquista é serviço de cada um. Deus não tem prerrogativas ou exceções. Toda glória tem preço. É a lei do mérito de que ninguém escapa.6
 
Certamente, a advertência do generoso Emmanuel é para avivar, principalmente, a vigilância dos espíritas que, ao se defrontarem com os infindáveis problemas a vencer, sobretudo na hora crucial do testemunho, se não tiverem aproveitado os conhecimentos doutrinários apreendidos, sabendo empregá-los em todos os momentos terrenos para fortalecimento do Espírito, de nada valerão os esforços que desenvolverem em benefício da Doutrina, por falta de méritos conquistados no caminho da legítima redenção de si mesmos. O Espiritismo convida-nos a seguir no rumo certo ao destacar que as verdadeiras ideias a serem cultivadas pelos homens, devem estar em completa sintonia com os princípios lidimamente cristãos. Em visita à “Mansão Paz”, escola espiritual luminosa, que permanece sob a jurisdição de “Nosso Lar”, os Espíritos Hilário e André Luiz são esclarecidos por seu diretor Druso sobre o atendimento aos Espíritos que ali aportam, necessitados e infelizes, mas decididos a trabalhar pela própria regeneração, conseguindo compreender a “importância da existência carnal, como sendo verdadeiro favor da Divina Misericórdia”7 e do esforço a ser despendido para se adaptarem aos mecanismos da imprescindível Justiça. Druso, no entanto, reforça o valor da súplica, para que, ao encarnarem, não percam o ensejo de melhoria espiritual:
– A prece, no sentido a que aludimos, é sempre um atestado de boa vontade e compreensão, no testemunho da nossa condição de Espíritos devedores... Sem dúvida, não poderá modificar o curso das leis, diante das quais nos fazemos réus sujeitos a penas múltiplas, mas renova-nos o modo de ser, valendo não só como abençoada plantação de solidariedade em nosso benefício, mas também como vacina contra a reincidência no mal. [...] a prece faculta-nos a aproximação com os grandes benfeitores que nos presidem os passos, auxiliando-nos a organização de novo roteiro para a caminhada segura.8
 
A melhor forma de orar é a que se traduz em trabalho, integrando-nos aos planos da Providência.O espírita consciente não é simples detentor de conhecimentos doutrinários, apenas pelo puro prazer intelectual. Sabe que problemas advirão, de acordo com a responsabilidade de agir dignamente diante das leis divinas; topará com o “orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, os quais, levados às suas últimas trincheiras, tentam barrar-lhe o caminho e lhe suscitam entraves e perseguições”.9 Essas lutas, no entanto, são de ordem moral e haverão de ser vencidas, passo a passo, por acréscimo de misericórdia do Pai Amantíssimo e de Jesus, Excelso Condutor de nossas almas, cuja aplicação de seus ensinamentos permite construir o Reino de Deus em nós.
 
Referências:
1 KARDEC, Allan.  O evangelho segundo o espiritismo . Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 20, it. 2.
2 ______.  O céu e o inferno . Trad. Guillon Ribeiro. 2. ed. esp. 2. reimp. Rio de Janei-ro: FEB, 2011. P. 1, cap. 7, it. Código pe-nal da vida futura, subit. 29.
3 ______. ______. Subit. 32.
4 ______. ______. Subit. 33.
5 ______. ______. Subit. 32.
6 XAVIER, Francisco Cândido. Justiça divina. Pelo Espírito Emmanuel. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Lei do Mérito, p. 121-123.
7 ______.  Ação e reação. Pelo Espírito André Luiz. 2. ed. esp. 2. reimp. Rio de Ja-neiro: FEB, 2010. Cap. Ante o Centenário.
8 ______. ______. Cap. 19, p. 280.
9 KARDEC, Allan.  O evangelho segundo o espiritismo . Trad. Guillon Ribeiro. 130. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 23, it. 17.