(Germano Romero)
Muita piedade se sentiu de Jesus, e ainda se sente, ao se lembrar do que
ele sofreu na sua marcante passagem pela Planeta. Tão marcante que, em qualquer
parte do mundo, após mais de dois milênios, o seu rastro ainda é percebido em inúmeros
sinais, templos, religiões, monumentos, por toda a superfície do planeta. Da
mais tosca tapera, nos confins do Judas, ao mais rico bairro da civilização
moderna, percebe-se sua marca. Seja numa cruz de madeira rude ou num oratório
banhado a ouro, dentro de um suntuoso palácio.
E a piedade se aprofunda tanto quanto se reflita sobre o que a humanidade
foi capaz de fazer com um ser tão iluminado. Que veio ao mundo da maneira mais
simples possível, só pregou a justiça e o amor, o perdão e a tolerância com os
semelhantes, deixando-nos o maior código de conduta moral já proferido na face
da Terra. E ele tanto sabia o quão grandiosa era a sua mensagem que chegou a
dizer: “Passarão o Céu e a Terra, mas as minhas palavras não passarão. O seu Sermão
da Montanha sensibilizou o Mahatma Gandhi, ao ponto de proclamar: “Se toda a
literatura ocidental fosse destruída e restasse apenas o Sermão da Montanha,
nada se teria perdido."
Pois bem, mesmo vindo ao mundo para semear a semente da concórdia e da
paz de espírito, da bondade, da complacência, do recolhimento e do respeito ao
Criador, ele foi escolhido pelos próprios conterrâneos para ser crucificado,
num dos mais terríveis plebiscitos da história. Cuja lembrança permanece
impiedosamente cravada na memória da civilização.
Entretanto, olhando o mundo de hoje é inevitável não continuar a ter pena
de Jesus. Pena do que ele viria, ao reencarnar novamente entre nós, ou do que
vê, em sua condição de espírito que prossegue iluminando a infinitude galáctica.
Piedade ao perceber o que ele sente olhando o que se fez com a Mãe
Natureza, destruindo o verde, poluindo rios e mares. Pena de sua decepção ao
perceber quanto deturparam os seus ensinamentos olhando a suntuosidade dos
templos erigidos em nome de Deus, muitas vezes com o suor da escravidão e um
luxo que na da tem a ver com sua mensagem. Piedade ao ver que os países da região onde
ele nasceu continuam a promover guerras, estupidamente chamadas de “santas”.
Piedade ao constatar que nós nada entendemos ainda do amor que ele pregou.
Muito menos os que se nomeiam como cristãos e permanecem na intolerância, no
preconceito, no igrejismo, na discriminação, inclusive religiosa, se exibindo em
trios elétricos e orando através do barulho.
Piedade, sobretudo, ao ver que, logo mais, nessa Noite de Natal, muitos
beberão e comerã, do bom e do melhor, trocarão presentes entre si, e, entre
beijos e abraços, nem se lembrarão do que essencialmente estão comemorando. E,
com o amor e a compreensão que ele nos ensinou, também sentiremos piedade de
tantas ovelhas suas que continuam sem pastor...
Texto extraído do Jornal A União
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